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Análise Combinatória e Probabilidade: Com Aplicações no SageMath

Seção 2.6 O Princípio da Reflexão

Subseção 2.6.1 Passeios Sobre o Reticulado

Definição 2.6.1.

Chamaremos o plano de coordenadas inteiras de reticulado.
Figura 2.6.2. Um reticulado.
Existe uma classe de problemas em análise combinatória que consiste em determinar a quantidade de caminhos de um ponto \(A(a,b)\) até \(B(c,d)\text{,}\) em um reticulado, sob algumas condições. Como por exemplo:

Exemplo 2.6.3.

Uma partícula está sobre o reticulado. Ela só pode fazer dois tipos de movimentos:
  • Estando sobre o ponto \((m,n)\) se move para o ponto \((m,n+1)\text{;}\)
  • Estando sobre o ponto \((m,n)\) se move para o ponto \((m+1,n)\text{.}\)
Determine o número de caminhos da origem \(O(0,0)\) até o ponto \(A(a,b)\text{.}\)
Solução.
Chamamos o primeiro tipo de movimento de "para o Norte" e o denotaremos com uma letra \(N\text{,}\) e o segundo de "para o Leste" e o denotaremos por uma letra \(L\text{.}\) Com esta notação, temos uma bijeção entre os caminhos dessa partícula no reticulado e os anagramas formados por \(a\) letras \(L\) e por \(b\) letras \(N\text{,}\) por meio da seguinte associação: Toda vez que a partícula faz o movimento \((n,m)\to (n+1,m)\text{,}\) escrevemos \(L\) e toda vez que a partícula faz o movimento \((n,m)\to (n,m+1)\text{,}\) escrevemos \(N\text{.}\)
Vamos ilustrar a ideia na figura abaixo:
Figura 2.6.4. Todos os caminhos de \(O(0,0)\) até \(A(2,2)\) e seus respectivos anagramas.
Pelo princípio da bijeção, calcular a quantidade de caminhos no reticulado do ponto \(O(0,0)\) até o ponto \(A(a,b)\) é o mesmo que calcular o número de anagramas com \(a\) letras \(L's\) repetidas e \(b\) letras \(N's\) repetidas, o que é obtido calculando
\begin{equation*} PR_{a+b}^{a,b}=\dfrac{(a+b)!}{a!b!} = \displaystyle C_{a+b}^{a}\text{.} \end{equation*}

Subseção 2.6.2 O Princípio da Reflexão

O princípio da reflexão é uma ideia geométrica aplicada na contagem de caminhos no reticulado com a restrição de não poder ultrapassar uma determinada reta. Dentre as variadas aplicações deste princípio, temos o problema do troco na fila de cinema (Exercício 2.6.4.4) e o problema da eleição de André (Exercício 2.6.4.5). Outra aplicação notável, é a dedução dos Números de Catalan, por meio de um caso particular deste princípio.

Definição 2.6.5.

O princípio da reflexão consiste em determinar o número de caminhos da origem \(O(0,0)\) até o ponto \(A(n,k)\text{,}\) de modo que os caminhos fiquem sempre abaixo da diagonal \(y=x\text{,}\) isto é, eles podem tocar, mas não podem cruzar.

Definição 2.6.6.

Chamamos de caminho bom no reticulado, se o caminho não cruza a diagonal, e de caminho ruim se o caminho cruza a diagonal. Veja um exemplo de cada tipo na Figura 2.6.2, na Figura 2.6.11.(a) e na Figura 2.6.11.(b).
Figura 2.6.7. Um exemplo de caminho bom.

Definição 2.6.8.

Seja \(R_1\) a reflexão dos pontos de um reticulado em relação à reta \(y=x+1\text{,}\) observe que \(R_1* P(r, s) = Q(s-1,r+1)\text{.}\) Na Figura 2.6.9, veja que a reflexão \(R_1\) leva a seta que liga \(P(2,2)\) à \(\tilde{P}(3,2)\) na seta que liga \(Q(1,3)\) à \(\tilde{Q}(1,4)\text{.}\)
Figura 2.6.9. Exemplo da reflexão \(R_1\text{.}\)

Demonstração.

Seja \(C_1\) o conjunto dos caminhos ruins de \(O\) até \(A\) e \(C_2\) o conjunto dos caminhos de \(O\) até \(B\text{.}\) Primeiramente, observe que se \(k>n\text{,}\) o ponto A estaria acima da diagonal \(y=x\text{,}\) então não haveria caminhos bons, só os ruins. Logo, vamos supor que \(k\leq n\text{.}\)
Seja \(P\) um caminho ruim de \(O\) até \(A\text{,}\) isto é, \(P\in C_1\text{,}\) como ele é um caminho ruim, por definição, esse caminho cruza a reta \(y=x\) pelo menos uma vez. Aplicando a reflexão \(R_1\) aos pontos de \(P\text{,}\) após o primeiro cruzamento, obtemos um caminho de \(O\) até \(B\text{.}\) Como \(P\) é um caminho arbitrário, concluímos que cada caminho de \(C_1\) é levado, dessa maneira, em um caminho de \(C_2\text{,}\) logo \(\#C_1\leq\#C_2\text{.}\)
Veja um exemplo na Figura 2.6.11.(a) e na Figura 2.6.11.(b) abaixo.
(a) Exemplo de caminho ruim.
(b) Caminho ruim em laranja e sua respectiva reflexão em verde.
Figura 2.6.11. Exemplos de caminhos.
Reciprocamente, tomando um caminho \(Q\) de \(O\) até \(B\text{,}\) isto é \(Q\in C_2\text{,}\) ele necessariamente toca na diagonal \(y=x+1\text{,}\) uma vez que a ordenada de \(B\) é maior que a abscissa. Aplicando a reflexão \(R_1\text{,}\) a partir do primeiro cruzamento em relação à reta \(y=x+1\text{,}\) obtemos um caminho que termina em A. Ou seja, verificamos que todo caminho de \(C_2\) é levado em um caminho de \(C_1\text{.}\) Portanto, \(\#C_2\leq\#C_1\text{.}\)
Da propriedade da tricotomia dos números reais, se \(\#C_1\leq\#C_2\) e \(\#C_2\leq\#C_1\text{,}\) concluímos que \(\#C_1=\#C_2\text{.}\)

Demonstração.

Pela Proposição 2.6.10, o número de caminhos ruins de \(O(0,0)\) até \(A(n,k)\) é igual à quantidade de caminhos de \(O(0,0)\) até \(B(k-1,n+1)\text{,}\) sem restrições, ou seja, é o número de anagramas com os L’s repetidos \(k-1\) vezes e os N’s repetidos \(n+1\) vezes, que pode ser calculado por
\begin{equation*} PR_{k-1+n+1}^{k-1, n+1} = \frac{(k-1+n+1)!}{(k-1)!(n+1)!} = \frac{(n+k)!}{(n+1)!(k-1)!} =C_{n+k}^{n+1}, \end{equation*}
como queríamos demonstrar.

Demonstração.

Queremos calcular a quantidade de caminhos bons da origem \(O(0,0)\) até o ponto \(A(n,k)\text{.}\) Para tanto, vamos calcular o total e subtrair o número de caminhos ruins. O total de caminhos é dado por \(PR_{n+k}^{n, k}=C_{n+k}^{n}\text{.}\) E pela Proposição 2.6.12, sabemos que o número de caminhos ruins é dado por \(C_{n+k}^{n+1}\text{.}\) Assim,
\begin{equation*} C_{n+k}^{n}-C_{n+k}^{n+1}=\frac{n-k+1}{n+1}C_{n+k}^{n}. \end{equation*}

Tecnologia 2.6.14.

Abaixo, definimos uma função, que calcula o número de caminhos bons do ponto \(O(0,0)\) até o ponto \(A(n,k)\text{.}\)

Tecnologia 2.6.15.

Digite uma posição no reticulado e clique no botão "Update" para gerar um reticulado, um caminho aleatório e caso esse caminho seja ruim, obtenha também a reflexão deste caminho em relação a reta \(y=x+1\text{,}\) a partir do primeiro ponto que toca nessa reta.
Figura 2.6.16. Reticulado, caminho aleatório e respectiva reflexão.

Subseção 2.6.3 Números de Catalan

Os Números de Catalan, que foram nosso fio condutor até aqui, são muitos profícuos em análise combinatória, modelando uma gama enorme de problemas, por exemplo, a referência [6.12] apresenta 214 tipos diferentes de configurações combinatórias que podem ser contados usando Números de Catalan. Destacamos também, não só a variedade de problemas que são modelados por estes números, mais a versatilidade de temas que podem ser apresentados com eles, como por exemplo as funções geradoras, relações de recorrências, semi-ordem e muito mais. Para o leitor interessado, recomendamos as referências [6.10], [6.11] e [6.12].

Definição 2.6.17.

No Teorema 2.6.13 (Princípio da Reflexão), o caso particular em que \(k=n\) é conhecido como números de Catalan, ou seja, os números
\begin{equation*} C_n=\displaystyle\frac{1}{n+1}C_{2n}^n, \end{equation*}
são conhecidos como números de Catalan (ou Catalão).

Tecnologia 2.6.18.

O Sage possui um método específico para calcular os números de Catalan. Basta escolher o valor de \(n\) e usar o método conforme o código a seguir.

Exemplo 2.6.19.

Anteriormente, no Exemplo 2.6.3, vimos a bijeção entre os caminhos da origem até o ponto \(A(a,b)\text{,}\) com os anagramas formados por \(a\) letras \(L\) e \(b\) letras \(N\text{.}\) Neste momento, é natural perguntar: Qual é a relação entre estes anagramas e os números de Catalan?
Solução.
Apresentamos os números de Catalan como a quantidade de caminhos da origem até o ponto \(A(n,n)\) de maneira que cada um desses caminhos nunca ultrapasse a diagonal \(y=x\text{,}\) ou seja, a cada momento a quantidade de movimentos "para o norte" deve ser sempre menor ou igual que a quantidade de movimentos "para o leste". Assim, por meio da bijeção já apresentada no Exemplo 2.6.3, concluímos que um caminho que é solução do problema de Catalan para o reticulado está associado aos anagramas com \(n\) letras \(L\) e \(n\) letras \(N\) de modo que ao lermos da esquerda para a direita a cada momento, a quantidade de letras \(L\) será maior ou igual a quantidade de letras \(N\text{.}\) Vejamos que para \(n=3\text{,}\) o anagrama \(LLNLNN\) é uma palavra válida para o problema de Catalan, enquanto \(LNNLNL\) não é válida.

Exemplo 2.6.20.

Um caminho de Dyck é um caminho de comprimento \(2n\text{,}\) no plano cartesiano, do ponto \((0, 0)\) ao ponto \((2n, 0)\text{.}\) No qual, em cada passo, saímos do ponto \((m,n)\) para \((m+1, n+1)\) ou \((m+1, n-1)\text{,}\) com a condição adicional de que o caminho nunca fica abaixo do eixo \(x\text{.}\) Quantos são os caminhos de Dyck?
Solução.
Observe que se a cada passo de \((m,n)\) para \((m+1, n+1)\) associarmos uma letra "L" e a cada passo de \((m,n)\) para \((m+1, n-1)\) associarmos uma letra "N", temos uma associação dos caminhos de Dyck com os anagramas do Exemplo 2.6.19 que acabamos de ver. O qual tem sua cardinalidade determinada pelos números de Catalan.

Tecnologia 2.6.21.

Os caminhos de Dyck podem ser plotados no Sage, basta usar o método DyckWord, tendo como entrada uma lista de zeros e uns, na qual cada 1 representa um passo de \((m,n)\) para \((m+1, n+1)\) e cada 0 representa um passo de \((m,n)\) para \((m+1, n-1)\text{.}\) Além disso, é necessário adicionar o comando .plot() para que o Sage retorne o respectivo caminho de Dyck. No exemplo a seguir o parâmetro aspect_ratio=1 foi adicionado apenas para que os eixos fiquem com a mesma proporção.

Exercícios 2.6.4 Exercícios

1.

Existem valores de \(n\) e \(k\) tais que a quantidade de caminhos bons é igual ao número de caminhos ruins?
Resposta.
Sim, \(n=2k-1\text{.}\)
Solução.
Basta igualar o número de caminhos bons com o número de caminhos ruins e encontrar \(n\) em função de \(k\text{.}\) Então,
\begin{align*} \frac{n-k+1}{n+1}C_{n+k}^{n}=\amp~C_{n+k}^{n+1}\\ \frac{(n-k+1)}{n+1}\cdot \frac{(n+k)!}{n!k!} = \amp~ \frac{(n+k)!}{(n+1)!(k-1)!}\\ \frac{(n-k+1)}{(n+1)!k(k-1)!}=\amp~\frac{1}{(n+1)!(k-1)!}\\ n-k+1=\amp~k\\ n=2k-1. \end{align*}

2.

Seja \(R_i\) a reflexão dos pontos de um reticulado em relação à reta \(y=x+i\text{.}\) Determine a refexão \(R_i\) e justifique.
Resposta.
\(R_i*A(r,s) = B(s-i, r+i)\text{.}\)
Solução.
Para encontrar a reflexão \(R_i\text{,}\) podemos encontrar a projeção de um ponto arbitrário \(A(r,s)\) na reta \(y=x+i\text{,}\) em seguida aplicamos uma translação, na vertical ou na horizontal. O sentido do deslocamento dependerá do caso e o total transladado será igual a distância entre o ponto original e a projeção do ponto na reta.
Figura 2.6.22. Reflexão \(R_i\) com \(s\lt r\text{.}\)
Figura 2.6.23. Reflexão \(R_i\) com \(s>r\text{.}\)
Caso \(s\lt r:\) Fazemos a interseção da reta \(y=s\) com a reta \(y=x+i\) e obtemos \(x=s-i\text{.}\) Agora, transladamos o ponto \(C(s-i, s)\) verticalmente no total de \(r-s+i\) unidades para cima. A reflexão é dada por \(R_i*A(r,s) = B(s-i, r+i)\text{.}\)
Caso \(s>r:\) Fazemos a interseção da reta \(x=r\) com a reta \(y=x+i\) e obtemos \(y=r+i\text{.}\) Agora, transladamos o ponto \(C(r, r+i)\) horizontalmente no total de \(s-r-i\) unidades para direita. A reflexão é dada por \(R_i*A(r,s) = B(s-i, r+i)\text{.}\)
Caso \(s=r:\) Basta observar que \(R_i*A(s,s+i) = B(s, s+i)\text{,}\) ou seja, os pontos da reta \(y=x+i\) são pontos fixos.
Ligando os pontos \(A, B, C\text{,}\) obtemos um triângulo isósceles na qual, a reta \(y=x+i\) contém a bissetriz do ângulo \(A\widehat{C}B\text{.}\) Portanto, \(R_i*A(r,s) = B(s-i, r+i)\) é de fato a reflexão procurada.

3.

Refaça o princípio da reflexão no caso em que os caminhos não possam nem tocar a diagonal \(y=x\text{.}\)
Solução 1.
Quantidade total de caminhos: A quantidade de caminhos da origem até o ponto \(A(n,k)\) é
\begin{equation*} PR_{n+k}^{n, k}=C_{n+k}^{n}. \end{equation*}
Quantidade de caminhos ruins: Note que o ponto \(O(0,0)\) pertence a reta \(y=x\text{.}\) Logo, precisamos ajustar nosso conceito de caminho ruim. Vamos considerar que um caminho é ruim se ele toca na reta \(y=x\text{,}\) mas o ponto de interseção é diferente do ponto \(O(0,0)\text{.}\) Assim, podemos classificar os caminhos ruins em dois tipos.
  • 1º Tipo: o caminho vai do ponto \(O(0,0)\) até o ponto \(A(n,k)\) com o primeiro passo para cima. Assim, para contar o número desses caminhos, basta contar o número de caminhos do ponto \(Q(0,1)\) até o ponto \(A(n,k)\text{:}\)
    \begin{equation*} PR_{n+k-1}^{n,k-1}. \end{equation*}
  • 2º Tipo: o caminho vai do ponto \(O(0,0)\) até o ponto \(R_0*A(n,k)=B(k,n)\) com o primeiro passo para a direita. Para contar o número desses caminhos, basta contar o número de caminhos do ponto \(P(1,0)\) até o ponto \(B(k,n)\text{:}\)
    \begin{equation*} PR_{n+k-1}^{k-1, n}. \end{equation*}
Figura 2.6.24. Um caminho ruim do 1º Tipo.
Figura 2.6.25. Um caminho ruim do 2º Tipo.
Portanto, pelo Princípio Aditivo, o total de caminhos ruins é dado por
\begin{equation*} PR_{n+k-1}^{n,k-1}+PR_{n+k-1}^{k-1, n} = 2\cdot PR_{n+k-1}^{n,k-1}=2\cdot C_{n+k-1}^n. \end{equation*}
Quantidade de caminhos bons: Para contar o número de caminhos bons, basta calcular a diferença entre o número total de caminhos e o número total de caminhos ruins:
\begin{equation*} PR_{n+k}^{n, k} - 2\cdot PR_{n+k-1}^{n,k-1} = \frac{n-k}{k}\cdot C_{n+k-1}^n. \end{equation*}
Solução 2.
Quantidade total de caminhos: A quantidade de caminhos da origem até o ponto \(A(n,k)\) é
\begin{equation*} PR_{n+k}^{n, k}=C_{n+k}^{n}. \end{equation*}
Quantidade de caminhos bons: Observe que a reflexão será em relação a reta \(y=x\text{,}\) portanto a reflexão será \(R_0*A(n,k)=B(k,n)\text{.}\) Assim, para um caminho ser bom, ele precisa dar o primeiro passo para a direita, mas nem todo caminho que dá o primeiro passo para a direita é um caminho bom.
Figura 2.6.26. Um caminho bom, partindo do ponto \(P(1,0)\text{.}\)
Figura 2.6.27. Um caminho ruim, partindo do ponto \(P(1,0)\text{.}\)
Para contar os caminhos bons, vamos contar todos os caminhos que iniciam no ponto \(P(1,0)\) e chegam no ponto \(A(n,k)\text{,}\) depois vamos contar todos os caminhos ruins que iniciam no ponto \(P(1,0)\) e também chegam no ponto \(A(n,k)\text{.}\) A diferença entre essas quantidades será o número de caminhos bons.
  • O número de caminhos de \(P(1,0)\) até \(A(n,k)\) é
    \begin{equation*} PR_{n+k-1}^{n-1, k} = C_{n+k-1}^{n-1}. \end{equation*}
  • O número de caminhos ruins de \(P(1,0)\) até \(A(n,k)\) é igual ao número de caminhos de \(P(1,0)\) até \(R_0*A(n,k)=B(k,n)\text{,}\) ou seja,
    \begin{equation*} PR_{n+k-1}^{k-1, n} = C_{n+k-1}^n. \end{equation*}
Finalmente, o número de caminhos bons de \(P(1,0)\) até \(A(n,k)\) é igual a
\begin{equation*} C_{n+k-1}^{n-1} - C_{n+k-1}^n = \frac{n-k}{k}\cdot C_{n+k-1}^n. \end{equation*}
Quantidade de caminhos ruins: A quantidade de caminhos ruins de \(P(1,0)\) até \(A(n,k)\) é igual a quantidade total de caminhos, menos a quantidade de caminhos bons:
\begin{equation*} C_{n+k}^n - \frac{n-k}{k}\cdot C_{n+k-1}^n = 2C_{n+k-1}^n. \end{equation*}

4.

Numa fila de cinema, \(m\) pessoas têm notas de \(R$ 5,00\) e \(n\) pessoas têm notas de \(R$10,00\text{,}\) com \(n\lt m\text{.}\) A entrada custa \(R$5,00\text{.}\)
  1. Quais são as filas possíveis?
  2. Quantas são as filas que terão problemas de troco se a bilheteria começar a trabalhar sem troco?
  3. Quantas são as filas que terão problemas de troco se a bilheteria começar a trabalhar com duas notas de \(R$5,00\text{?}\)
Resposta.
  1. \(\displaystyle (m+n)!\)
  2. \(\displaystyle m!\times n!\times C_{m+n}^{m+1}\)
  3. \(\displaystyle m!\times n! \times C_{m+n}^{m+3}\)
Solução.
  1. O número de filas possíveis é o número de maneiras de ordenar \(m+n\) pessoas, ou seja, é \((m+n)!\text{.}\)
  2. Considere um reticulado, na qual o eixo \(x\) é referente as pessoas notas de \(R$5,00\) e o eixo \(y\) é referente as pessoas com notas de \(R$10,00\text{.}\) Pela Proposição 2.6.12, o número de maneiras escolher as posições das pessoas com notas de \(R$5,00\) e de \(R$10,00\) é \(C_{m+n}^{m+1}\text{.}\) Uma vez feita essa escolha, podemos ordenar as pessoas de \(m!\times n!\) maneiras. Logo, no total, o número de filas que terão problemas de troco é
    \begin{equation*} m!\times n!\times C_{m+n}^{m+1}\text{.} \end{equation*}
  3. Basta aplicar a mesma ideia do item anterior, mas com a reflexão \(R_3*P(m,n)=Q(n-3, m+3)\text{,}\) deduzida do Exercício 2.6.4.2. Utilizando a mesma ideia da Proposição 2.6.12, vamos contar o número de caminhos da origem até o ponto \(B(n-3, m+3)\text{.}\) Este número é
    \begin{equation*} PR_{m+n}^{n-3, m+3}=\frac{(m+n)!}{(n-3)!(m+3)!}=C_{m+n}^{m+3}. \end{equation*}
    Agora, basta multiplicar o número anterior pelo número de maneiras de ordenar as pessoas. Portanto, a resposta é
    \begin{equation*} m!\times n! \times C_{m+n}^{m+3}. \end{equation*}

Nota 2.6.28.

O princípio da reflexão, também é conhecido como "O princípio da reflexão de André" (Andre’s reflection principle), devido a sua utilização na solução do Problema da Eleição ("The Ballot Problem"). O qual enunciamos abaixo. Esse princípio possui várias generalizações e ainda pesquisado atualmente, o que pode ser visto em [6.19] e [6.20].

5.

Em uma eleição há dois candidatos A e B. Se o candidato \(A\) teve \(a\) votos e o candidato \(B\) teve \(b\) votos com \(a>b.\) Quantas são as marchas de apuração:
  1. Possíveis?
  2. Nas quais o candidato \(A\) permanece sempre em vantagem ou empatado com o candidato \(B\text{?}\)
  3. Nas quais o candidato \(A\) permanece sempre em vantagem em relação ao candidato \(B\text{?}\)
Resposta.
  1. \(\displaystyle PR_{a+b}^{a, b}\)
  2. \(\displaystyle \frac{a-b+1}{a+1}C_{a+b}^a\)
  3. \(\displaystyle \frac{a-b}{b}\cdot C_{a+b-1}^a\)
Solução.
  1. O número de marchas possíveis é dado por \(PR_{a+b}^{a, b}\text{.}\)
  2. O número de marchas, na qual o cadidato \(A\) permanece sempre em vantagem ou empatado com o candidato \(B\) é dado pelo número de caminhos bons da origem até o ponto \(P(a,b)\text{,}\) ou seja, é
    \begin{equation*} \frac{a-b+1}{a+1}C_{a+b}^a. \end{equation*}
  3. Usando a ideia do Exercício 2.6.4.3, o número de marchas, na qual o cadidato \(A\) permanece sempre em vantagem em relação o candidato \(B\) é dado pelo número de caminhos bons do ponto \(P(1,0)\) até o ponto \(Q(a,b)\text{,}\) sem que o caminho toque na reta \(y=x\text{.}\) Pelo Exercício 2.6.4.3, a resposta é
    \begin{equation*} \frac{a-b}{b}\cdot C_{a+b-1}^a. \end{equation*}

6.

Mostre que o número de Catalan, \(C_n\text{,}\) conta o número de expressões contendo \(n\) pares de parenteses que estão corretamente emparelhados. Por exemplo, para \(n=3\text{,}\)
\begin{equation*} ((())), \quad (()()), \quad (())(), \quad ()(()), \quad ()()(). \end{equation*}
Solução.
No Exemplo 2.6.20, mostramos que o número de caminhos de Dyck, de comprimento \(2n\text{,}\) é dado por \(C_n\text{.}\) É suficiente exibir uma correspondência biunívoca entre os caminhos de Dyck e as expressões contendo \(n\) pares de parenteses que estão corretamente emparelhados.
Para cada caminho de Dyck, cada vez que o passo for de \((m,n)\) para \((m+1, n+1)\text{,}\) abra um parêntese e cada vez que o passo for de \((m,n)\) para \((m+1, n-1)\) feche um parêntese. Dessa maneira, como os caminhos de Dyck não cruzam o eixo \(x\text{,}\) em cada expressão correspondente, a quantidade de parênteses abrindo será maior ou igual que a quantidade de parênteses fechando. Além disso, o ponto inicial e o ponto final dos caminhos de Dyck estão separados por de \(2n\) passos e estão no eixo \(x\text{,}\) portanto a expressão correspondente conterá \(n\) pares de parênteses corretamente emparelhados.
Reciprocamente, para cada expressão corretamente emparelhada contendo \(n\) pares de parênteses, fazendo a leitura da esquerda para a direita da expressão dada, construa o caminho de Dyck correspondente da seguinte maneira: Dê um passo de \((m,n)\) para \((m+1, n+1)\text{,}\) sempre que houver um parêntese abrindo, e dê um passo de \((m,n)\) para \((m+1, n-1)\text{,}\) sempre que houver um parêntese fechando. Assim, como a quantidade de parênteses abrindo é sempre maior ou igual que a quantidade de parênteses fechando, o caminho construído sempre ficará acima do eixo \(x\text{.}\) O primeiro parêntese será do tipo "(", garantindo que o primeiro passo seja de \((0,0)\) para \((1,1)\text{.}\) Como as expressões estão corretamente emparelhadas e contêm \(n\) pares de parênteses, o último parêntese será do tipo ")" e o caminho correspondente chegará no ponto \((2n,0)\text{.}\)
Observação: No Sage, a lista contendo todas as expressões de \(n\) pares de parênteses corretamente emparelhados pode ser gerada com o método \(\verb|DyckWords|\text{.}\) Para exibir a representação em parênteses, basta usar o método \(\verb|print|\text{:}\)